O bordão “a minha voz continua a mesma, mas meus cabelos – quanta diferença!” cai como uma luva para explicar os trejeitos e a trajetória da cantora Paula Fernandes. A “menina de Sete Lagoas (MG)”, como ela mesma se autodefiniu durante entrevista de lançamento do CD e DVD Ao Vivo, em dezembro do ano passado, canta desde os 8 e gramou muito até ser convidada por Roberto Carlos para dividir com ele o palco – e o reinado – no show do Natal de 2010, na Praia de Copacabana.
Paula fala de si tranquila, com a mesma segurança com que solta o vozeirão incompatível com a figura de moça delicada, mas não deixa os cachos em paz. Ele mexe no cabelo praticamente todo o tempo da entrevista – quase uma hora –, numa espécie de “tique nervoso” que entrega sua preocupação excessiva com a imagem. Sabendo de sua obsessão pela juba, esta repórter cresce o olho num Babeliss (“chapinha” para encaracolar), que está sob a guarda das assessoras: “Só pode ser da Paula”, suspeito.
Paula Fernandes surge, depois de duas horas de atraso, fresca e bela, num minivestido branco e, claro, com os cachos impecáveis (atenção caça-talentos para propaganda de xampu! Paula tem antecedente: fez comercial para o governo de Minas). Simpática, a mineira lança seu sorriso meigo e todos se derretem. “Por meio da luz do Roberto, pude mostrar a minha”, explica. Ela sabe cantar, não resta dúvida. Mas para onde vai a musa de 27 anos, agora que tem a fama a seu favor?
“Adoraria compor com Roberto, mas não houve nada combinado após aquele show”, diz, com a mesma naturalidade que desmente qualquer envolvimento extra com Rei – “é natural que as pessoas pensem coisas pois aquele encontro foi muito mágico – surreal até”, admite.
Taylor Swift: sonho realizado
Ambiciosa, a menina que pensou em largar tudo quando a família voltou para BH quebrada, depois de uma mudança (das 24 que fez na vida) mal sucedida para São Paulo, afirma que seu maior sonho é gravar com um artista internacional que admira, como a cowgirl americana Taylor Swift e o guitarrista jazzy John Mayer. Pois um ano depois, em dezembro de 2011, eis que a parceria é anunciada. O dueto entre as duas, Long Live, será lançado como CD bônus no próximo álbum de Swift, Speak Now World Tour Live, nas lojas em 10 de janeiro.
Paula criou a versão em português da letra original escrita por Taylor, eleita recentemente Artista do Ano no American Music Awards e Mulher do Ano pela revista Billboard. “Fiquei realmente feliz em dividir Long Live com Paula Fernandes, pois esta é uma das minhas canções favoritas. Foi maravilhoso, amei sua versão, ficou linda”, elogiou Swift, que completou 22 anos no dia em que a parceria foi anunciada (13/12).
Original das Gerais
Para nomear seu estilo, Paula prefere pop rural a sertanejo ou mesmo neosertanejo – caso da dupla Victor & Leo que participa de seu disco, junto com Leonardo e o mestre Marcus Viana, que praticamente tirou Paula do anonimato. “Cresci ouvindo Tonico e Tinoco e não tenho vergonha das minhas raízes. Somente acho que meu som transcende esse rótulo”.
Ela gosta também de desbravar caminhos, como mulher – jovem e bonita – numa seara dominada por duplas masculinas. Roberta Miranda, Nalva Aguiar e Helena Meirelles à parte, Paula Fernandes também compõe e faz questão de se afirmar como uma artista autoral – e original: “Não me invento, sou realmente como sou”.
Paula é meio caipirinha, é bem verdade. Mas tem aquela pegada pop e romântica que resulta num digerível cruzamento entre Ivete Sangalo e Ana Carolina, de quem é fã e que considera “muito poderosa”. Ciente de que sua energia light e sua música fácil tocam as pessoas, Paula Fernandes sabe que está com a faca e o queijo na mão.
Subproduto de Pássaro de Fogo (2009), seu primeiro disco pela major Universal, Ao Vivo já é Ouro com a pré-venda para lojas – o que vier do público é lucro. Antes, ela havia lançado um vinil aos 10, um CD aos 15, outro em 2005 (Canções do Vento Sul) e a compilação de sucessos internacionais Dust in the Wind como produtora em 2006, junto com Marcus Viana – que dá show à parte ao violino em Quando a Chuva Passar.
Das Gerais para o mundo, a cantora “brejeira”, como também se define, acredita desfrutar dos melhores anos de sua carreira com uma maturidade conquistada em shows nos bares de BH, que lhe confere vantagens. Daquelas que só se tem quando se está na hora e no lugar certos.
“As pessoas me param na rua, depois do show com Roberto, e perguntam: porque você demorou tanto para acontecer?”. Paula cantou para a mãe quando pequena e, desde então, recebeu todo o apoio da família numa saga rumo ao estrelato. Deslumbre? “Gosto da simplicidade da minha música e quero que meu trabalho reflita isso”.
Nesse sentido, o clipe de Jeito de Mato, com participação de Almir Sater, incluído nos extras do DVD, traduz esse clima lindamente. E mesmo com os cachos de Paula amassados num chapéu.
Fonte: brpress