O jeito de menina e a voz potente da cantora mineira Paula Fernandes marcam seu CD e DVD “Paula Fernandes ao Vivo” (Universal), com participação de nomes da música sertaneja, em show gravado “ao vivo” no Estúdio Quanta, em São Paulo.
A produção vem “mostrar a cara” da cantora que tem deixado seu toque feminino na música até então dominada pelas duplas masculinas.
Paula tem levado a covers, inspirando dezenas de cantoras amadoras a mostrarem seus trabalhos inclusive pela Internet.
Aos 26 anos, ela diz que sua meta “é emocionar” o público. Fama não é nem nunca foi o objetivo. A cantora teve, no ano passado, a consagração nacional ao dividir o palco com Roberto Carlos. “As pessoas tiveram contato com a dona da voz nas novelas. Elas achavam que eu era mais alta, mais gordinha, não imaginavam que fosse uma menininha”, relata. “Desde então, estou viajando demais da conta”, afirma, exibindo seu melhor “mineirês”.
Paula Fernandes mostra suas raízes e surpreende pelo forte timbre em interpretações como “Amargurado”, de Tião Carreiro e Dino Franco. “Uma mulher cantando essa música; tudo a ver, né?.
Com o músico e produtor Marcus Viana, um de seus grandes incentivadores, ela canta “Quando a Chuva Passar”.
Viana lembra bem de quando se encantou com a cantora. “Vi a Paula no programa Brasil das Gerais, na Rede Minas, justo na época em que eu procurava alguém para tocar violão country. Fiquei louco com ela”, afirma o músico, que a considera um “Almir Sater de saia”.
Paula sabe que está encorajando muitas meninas. “Entro no You Tube e vejo várias delas tocando ‘Jeito de Mato’ no violão. Me sinto desbravando uma terra”.
Sobre as composições em que demonstra sentimentos maduros e relatos de paixões incandescentes, a artista abre o jogo: “Só tive dois relacionamentos na minha vida”.
Ela explica que não são composições autobiográficas. “É a forma como eu encaro e sonho o amor. Acredito no amor na sua forma pura, acho que por talvez ter sido criada na roça”.
Mas Paula Fernandes admite que não foi fácil conquistar a maturidade e o sucesso.
Um dos muitos sacrifícios que a família fez para assegurar a carreira da menina foi vender a propriedade rural da qual tiravam seu sustento.
“Com 18 anos, me sentia verdinha para algumas coisas. Sempre fui profissional demais, e isso acaba impedindo o desenvolvendo do outro lado. Tanto que eu fui namorar pela primeira vez com 19 anos. Mas chegou na hora certa”, considera.
“Gosto de terra, de sítio, de mato, de roça”
Com seu trabalho artístico enfim reconhecido por todos os cantos do Brasil, Paula Fernandes diz que, quando se afasta da correria, o que procura mesmo é voltar para suas raízes e assumir o seu “jeito de mato” – conforme define.
“Sempre que posso, onde tem mato estou dentro. Gosto muito de terra, de sítio, de roça, sinto falta”, comenta a cantora, que mora em Belo Horizonte com a mãe e o irmão.
“Quando vou para esses lugares, gosto de fazer de tudo, mas o que tenho paixão é por andar a cavalo”.
Paula conta que sua primeira forma de composição foi desenhar cavalos. “No Orkut há alguns desenhos meus”, registra. Ela conta que nunca fez aulas para ser cavaleira, mas que também “nunca caiu” do animal.
“Eu montava em pelo, ainda pequenininha. Minha mãe ficava arrancando os cabelos, porque eu saía, com cinco, seis anos, para o pasto, levando o cabresto para pegar o cavalo. Depois, eu subia no cupinzeiro para alcançá-lo, e montava. Tive a infância mais feliz do mundo”, lembra-se a artista.
Outra arte da garota de Sete Lagoas, “em parceria” com o irmão mais novo, era disputar a beirada do fogão de lenha – “o lugar mais quentinho” da casa.
“Tínhamos um banco que era ridiculamente pequeno e que ficava naquele lugar. Eu brigava com o meu irmão para disputar o toquinho de madeira, porque criança gosta de ficar vendo o fogo”.
O descanso também contava com outra tradição mineira: o pão com manteiga ou o queijo direto na chapa quente do fogão. “O que mais gostava era de pegar o queijo e colocá-lo direto na chapa. Soltava aquela casquinha. Tudo de bom”.
Ainda no primeiro capítulo das “Pequenas Receitas Mineiras com Paula Fernandes”, a cantora cita também o afamado milho verde assado na brasa. “Dá um livro mesmo”, concorda ela.
Cacho de banana amadurecido naturalmente na cozinha e “Refogado de Umbigo de Bananeira à moda de Dona Dulce”, a mãe, também entram na lista das melhores receitas. “Só sei que descascava, descascava, descascava; sobrava um pedacinho de nada do umbigo e ainda tinha que tirar o amargo. Há 15 anos não como isso”.
A matéria-prima era facilmente encontrada nas mais de 8 mil bananeiras do tipo maçã cultivadas na propriedade. “A nódoa da bananeira, ou nódia, como a gente chamava, manchava sempre as nossas roupas”.
Na antiga propriedade, a família criava galinhas, porcos, cabritos, mantinha um alambique e fazia rapadura. Tinha “puxa-puxa” de rapadura – um pouquinho da massa da rapadura, ainda quente, que era colocado no copo com água fria para ver o ponto do doce”.
A propriedade ostentava um grande canavial e o pomar com vários pés de jabuticaba. “Quantas mil vezes caía jabuticaba no meu olho, porque eu ficava olhando para cima, admirando as frutas. E no canavial eu fazia trança em todas as espigas de milho. Não tínhamos muitos brinquedos, a nossa diversão era ali”, registra.
Se entrar em contato com a terra e andar descalço é coisa “boa demais”, para Paula era necessário encarar algumas consequências desse prazer. “Já peguei muito bicho de pé, mas eu não queria deixar ninguém tirar. Eu tinha a noção de que era um bichinho e dizia: vai matar o bichinho, não quero”.
A salvação dos pés da futura cantora era uma tia que, pacientemente, durante a madrugada, tirava o bicho enquanto Paula dormia. “Imagina? Com a luz de lamparina, devagarzinho nos meus dedinhos, pois eu não podia acordar, senão eu ficava com dó dos bichinhos”. A relação simbiótica, observa, era “coisa da natureza”. “Tenho muita saudade daquele cheiro de querosene queimado da lamparina”, admite.
Além da saudade, Paula Fernandes faz questão de dizer que tem muito orgulho da sua origem. “É a minha referência. Acho tudo tão bonitinho quando lembro”.
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